A arte de retomar o caminho



Por Laryssa Ribeiro


A sabedoria não consiste apenas em fazer sempre as melhores escolhas, em ter sagacidade, disciplina, temperança e acuidade ao escolher os melhores caminhos. Sábios não são aqueles que conseguem manter-se continuamente equilibrados e com sua vida e emoções sob controle. Não são apenas aqueles cujos caminhos parecem irrepreensíveis, que possuem prudência no falar e no agir. Sábias não são somente aquelas pessoas cujo caráter é tão firme que parecem inquebráveis no que diz respeito aos seus valores.
Pois embora a temperança, domínio próprio, firmeza de caráter etc., sejam virtudes, e sejam frutos que aparecem naturalmente naqueles que entenderam que querem alcançar a sabedoria, elas dependem, para que não evaporem no decorrer do tempo, de uma outra virtude, que não aparenta tanto triunfo, e que nem mesmo ostenta virtude. Trata-se da arte de entender que mesmo que eu faça algo de forma religiosamente empenhada em algum momento eu irei falhar. E é um problema não termos sido ensinados a errar. Aprendemos a disciplina, que os melhores lugares dessa Terra são reservados para aqueles que são mais dedicados, que menos são displicentes no que fazem. Mas não nos disseram de quantos capazes não conseguiram chegar ao topo, e de quantos inicialmente fracassados reverteram suas histórias e conseguiram fazê-lo. Não nos ensinaram que tão louvável quanto não errar é conseguir reconhecer o erro e voltar ao acerto.

Nós cristãos temos um “talento” especial para ser assim tão rígidos com nós mesmos e para com os outros. A ideia de que fomos criados para honrar a Deus a partir da excelência do que fazemos vem desde o berço do protestantismo e nos levou à produção de excelentes resultados, uma prova disso é o quão mais rapidamente se desenvolveram no passado os países em que o protestantismo era dominante. No entanto, apenas ser excelentes não é a finalidade para a qual fomos criados, e o desejo de conquistar não é necessariamente o que nos leva a fazê-lo. Na verdade, o contrário é a realidade para todos nós, o bem que desejamos fazer não fazemos, mas o mal que não desejamos é o que acabamos por fazer.

Mas embora ser bons não seja o fim último das nossas vidas, Deus deseja que sejamos, como dito, isso o glorifica. O problema está no quão tortuoso e difícil tornamos esse caminho. Está em achar que somos o conquistamos, e que se não conquistamos o que julgamos ser o que Deus gostaria que conquistássemos, não somos o que Deus gostaria que fossemos. E se eu ainda não sou o que Deus quer que eu seja só pode ser por algum erro meu. E isso desencadeia uma série de cobranças doentias que se instalam e formam morada nas nossas mentes. O desejo de acertar nos torna inflexíveis. A única forma de satisfazer a nossa ânsia por bons resultados é inadmitindo a possibilidade de errar. E é aqui que os sábios se diferenciam das pessoas comuns. Não é que eles se frustrem menos quando erram ou quando os seus planos não se concretizam, mas eles são capazes de redesenhar novos caminhos, de entender que não são perfeitos, e que reconhecer isso não faz deles mais fracos, pelo contrário, os faz mais fortes.


A tecnologia existente nos GPS’s faz com que ele rapidamente trace uma nova rota quando um motorista erra ou desvia o caminho anteriormente traçado. Nós fazemos planos, desenhos do nosso futuro, traçamos o trajeto. Mas acontece que a vida é um grande contrato de riscos, cujas cláusulas não são previamente definidas (como diria o psicólogo Augusto Cury), e por isso, estamos expostos o tempo inteiro a ter projetos frustrados, independente do quanto nos dedicamos a eles. Nesses momentos é preciso aprender a arte de se perdoar, se a causa do fracasso tiver sido você, ou perdoar o destino, e desistir do que não deu certo, se desapegar da rota antiga. Há pessoas que estudam durante anos para passar em um determinado concurso, mas percebem depois de um tempo que não era bem aquilo que queriam. E também aqueles que descobrem ter investido seu precioso tempo e dinheiro no curso errado na faculdade. Há ainda aquelas pessoas que planejam seus futuros ao lado de alguém, mas descobrem diferenças insustentáveis entre eles. Todas essas pessoas precisam aprender sobre a arte de desistir. Amassar a folha escrita e começar a escrever uma nova. Sem cobranças, sem medo do que pode vir, sem inseguranças, mas confiantes de que o Deus que dá harmonia ao Universo cuida da ordem da sua vida também, que o Autor da vida é o Escritor da sua história.