O que faz o seu coração pulsar?



Deus quando nos criou colocou em nós dons e habilidades, elas estavam lá desde o início, quando Ele de modo assombrosamente maravilhoso nos formou (Sl 139:14). E conforme vamos vivendo nesse mundo, e de acordo as peculiaridades da nossa história, esses talentos vão sendo descobertos e aperfeiçoados. Os outros e nós começamos a perceber aos poucos no que somos bons, o que fazemos e ninguém faz igual, o que faz nosso coração bater mais forte. Até que essas habilidades se transformam no rumo que decidimos dar para a nossa existência, se tornam nossos trabalhos, ministérios, nossos projetos de vida.

E todas essas coisas são realmente incríveis, e fazem parte do plano escrito por Deus desde o início para nós, mas elas não definem o que somos. Elas definem o que sabemos fazer, mas não o nosso propósito. 

Quando começam a nascer no coração sonhos, propósitos de vida, é essencial que eu me certifique de que é seguro construir minha esperança ali, se se trata de areia ou de terra firme, a qual a tempestade não é capaz de abalar.

Eu preciso entender que as minhas habilidades são apenas meios, instrumentos, para chegar a um fim, elas não podem ser o fim. Isso porque tudo aquilo que eu sei fazer é efêmero, bem como essa vida o é, se trata apenas da primeira página do livro, todo o restante da história viveremos na eternidade. E o que eu escrever nessa primeira página definirá todo o resto.

Eu não sei quanto a você, mas pensar nisso não deixa uma pergunta dentro de mim calar: para o quê eu acordo todos os dias? E vale a pena viver por isso?

Se você acorda todas as manhãs pensando em trabalhar duro com a única finalidade de ser bem sucedido daqui a alguns anos, eu sinto te dizer, mas essa não é uma terra firme e segura o bastante para se construir uma vida. Ou se você acorda todos os dias com o intuito de fazer o que for preciso para algum dia ser reconhecido pelo que você faz, também não há segurança aí, pois não depende apenas da sua dedicação, mas de que os outros a reconheçam.

A mãe mais dedicada aos seus filhos corre o risco de que os mesmos cresçam e sejam contaminados pela ingratidão que assola o mundo. O atleta mais talentoso e esforçado está sujeito aos efeitos do tempo sobre o seu vigor. O estudante mais disciplinado e inteligente está sujeito às inconstâncias e não reconhecimento do mercado de trabalho. Da mesma forma, todos nós, estamos sujeitos ao que costumamos chamar de injustiças do destino. E o que fazer quando eu me deparar com ela? Já que o que a torna tão incômoda é justamente o fato de o fazer algo a respeito não depender de mim? Nesses momentos, se a minha esperança toda está depositada sobre aquilo que é finito, esgotável e incerto, só o que me resta é buscar um novo “estoque” de sonhos, de motivações, de significados. E isso significa substituir aquilo que foi impregnado durante toda uma vida em nossos corações por novas coisas, que na maioria das vezes são igualmente inconstantes.

Mas pra mim, embora eu também possua sonhos secundários, o que faz mesmo meu coração pulsar, o que me faz acordar manhã após manhã e ter energia e ânimo para aquele dia é o desejo profundo que existe em mim de honrar ao Senhor com a minha vida. E eu aprendi que é seguro depositar minha esperança nisso, não porque tudo que eu faço é honrável, mas porque Ele quis que fosse assim. Ele sabe exatamente como usar o que é bom e o que é ruim para a glória Dele, e Ele é mestre em nos mostrar que ele está tanto alegria quanto na tristeza e que mesmo que a minha força venha Dele, na minha fraqueza o Seu poder também se aperfeiçoa. E assim eu não tenho medo de falhar, nem de me decepcionar, nem de que todas as minhas fontes de realização nesse mundo se esgotem. Porque eu sei que quando eu fizer o que é bom aos Seus olhos eu estarei o honrando, mas quando eu não o fizer, ainda me restará a chance de honrá-Lo através do meu arrependimento, do meu reerguer. Nunca existirá nesse mundo uma pessoa sequer que não possua nada que Deus não possa usar para engrandecer o seu nome. Mesmo naqueles em que nós não enxergamos nada que se possa chamar de virtude, Deus consegue encontrar algo, e a partir disso, fazer florescer ali. Foi assim com aquela mulher pecadora que ao chorar aos pés de Jesus marcou a história com uma das adorações mais sinceras já conhecidas. Ou como o discípulo de caráter duvidoso que se tornou a pedra da Igreja. Ou ainda como o jovem publicano que ao ter um encontro com o Mestre decidiu dar metade dos seus bens aos pobres e devolver quatro vezes mais àqueles a quem extorquiu.  Não há pessoas boas demais a fim de que possam impressionar a Deus, nem ruins demais com as quais Ele não saiba lidar. Não há talentos que o deslumbre nem dons que ele desconheça. E todas essas coisas, como já dizia o sábio de Eclesiastes, são como correr atrás do vento. Pois “se a nossa esperança em Cristo se restringe apenas a esta vida, somos os mais miseráveis de todos os seres humanos” (1 Coríntios 15:19).